30/04/10

PARADOXO PÓS-MODERNO

Será que a “mãe-natureza” merece maior protecção do que o embrião humano, no útero materno?

26/04/10

ANESTESIA: UMA ARTE MUITO SEGURA


Tenho total confiança nos anestesistas com quem trabalho. Porém, na minha prática clínica, o que mais preocupa os doentes que proponho para cirurgia é o medo de não acordarem da anestesia.
 
Espero que o seguinte texto da Drª Jan Garavaglia, extraído do seu livro “Como Não Morrer”, possa contribuir para tranquilizar todos os que vão ser submetidos a uma intervenção que requeira anestesia geral.
 
«Como muitos doentes, considero que a expectativa de uma anestesia constitui o aspecto mais assustador de uma experiência hospitalar. O que mais me incomoda é a perda de consciência e controlo. Ser posto a dormir por uma anestesia geral é como entrar num avião: coloca-se temporariamente a vida nas mãos de quem esperamos ser um piloto experiente.
 
Contudo, hoje a anestesia é na realidade um procedimento muito seguro, graças aos múltiplos progressos na anestesiologia, nomeadamente devido ao uso de centenas de novos e mais seguros anestésicos. De referir igualmente as técnicas avançadas de monitorização utilizadas pelos anestesistas. Existem inúmeros controlos de qualidade antes, durante e após o doente ser submetido a este procedimento – controlos de qualidade com padrões tão rigorosos que são considerados um modelo no que diz respeito à segurança do doente em todas as áreas dos cuidados de saúde».

16/04/10

NÃO TENHAM MEDO

DRª. CATALINA PESTANA

«Eu tive recentemente um cancro da mama, ductal, invasivo G3, mas este cancro nunca me teve a mim.
A única doença para a qual não existe qualquer tipo de cura ou vacina, descoberta ou em fase de investigação, é a vida. O desafio é pois, vivê-la, bebê-la, respirá-la lentamente, retirando dela o máximo que nos puder dar. Mesmo que não seja o prazer imediato, ou o bem-estar, que habitualmente ajuda a construir o mais ser.
Quando um volume estranho, detectável ao tacto, apareceu no meu peito direito, e me levou em Agosto de 2009, de urgência ao médico de família, dissemos um para o outro: “cancro não pode ser!”. Tinha feito, em Março do mesmo ano, a mamografia e a ecografia mamária de rotina, e aparentemente nada de preocupante existia. Antibiótico e anti-inflamatório durante oito dias, e, caso não desaparecesse totalmente a massa estranha, novos exames.
Não desapareceu. Os novos exames ditaram o resultado supra indicado.
Trabalhei muitos anos em educação para a saúde, pensava que era uma mulher da prevenção. Ao contrário do habitual, tinha feito tudo certo. Aquele diagnóstico funcionou como uma provocação. Por que seria que uma das raras situações em que a prevenção não resultou, me havia de acontecer a mim?
Partilhei a situação com a minha amiga/irmã, e preparei-me em silêncio para o pior.
O meu neto Miguel estava para nascer, e não era útil para ninguém misturar duas realidades tão simbolicamente antagónicas.
Não disse nada à família, antes dele nascer, mas comecei a desenvolver as estratégias necessárias para o combate. A minha ginecologista, de quase uma vida, constatado o problema, deu-me uma carta para um médico do IPO de Lisboa. Fomos no dia seguinte, a minha acompanhante e eu, iniciar um percurso que embora doloroso, nos tem enriquecido às duas, muito mais do que poderíamos imaginar no início.
Pode parecer surrealista, falar da componente positiva, que existe na partilha quotidiana da vida, com um cancro, que sabemos muito agressivo mas ao qual decidimos firmemente não facilitar a “tarefa”.
O IPO é um conjunto de edifícios, construídos em várias épocas, sendo que o principal, amarelo, estilo Estado Novo, marca arquitectonicamente o conjunto. Situa-se em Palhavã, junto à Praça de Espanha. Algumas mulheres que conheci, foram várias vezes até às imediações e não conseguiram entrar. Tiveram medo.
O medo é pior do que qualquer cancro. Bloqueia e paralisa, mesmo pessoas inteligentes e cultas. O medo existe dentro de todos nós, mas temos que aprender a espantá-lo, mesmo que seja através do humor.
Somos pessoas, não somos heróis. Esses, na Grécia Antiga, eram descritos como sendo filhos de um deus e de um humano, tinham pois mais resistência do que nós. Não consta que na actualidade os deuses se entretenham a namorar com humanos, daí a nossa falta de heróis.
Ultrapassada a porta de entrada, encontrámos doentes, alguns em sofrimento, como em todos os hospitais. Encontrámos profissionais de saúde cuja diferença em relação a muitos outros hospitais está na formação específica que adquirem e na cultura própria daquela organização, que os mais velhos vão passando aos recém chegados, e que todos herdaram do fundador. Uma cultura de cuidados humanizados, que faz deste um hospital de referência em Portugal ou em qualquer país da Europa».

Foi este o texto que a Drª Catalina Pestana teve a gentileza de me enviar, para publicação neste espaço. É o primeiro capítulo de uma história real sobre uma etapa recente da sua vida. 

12/04/10

VALORIZAR A PESSOA NO PACIENTE



O texto de hoje foi escrito pelo Prof. Richard Vincent, Professor Emérito da Faculdade de Medicina da Universidade de Brighton, no Reino Unido, e um dos patronos da PRIME.
«O que é que os pacientes mais valorizam quando procuram cuidados médicos? Certamente competência no diagnóstico clínico e na prestação eficiente de tratamento adequado. Contudo, estes aspectos são ultrapassados por uma dimensão que consideram ainda mais importante – o modo como são tratados e como são cuidados.
Esta dimensão dos cuidados de saúde são o tema de um Relatório do King’s Fund, uma instituição muito respeitada que procura melhorar o sistema de saúde no Reino Unido, com base em investigação devidamente fundamentada.
Tendo em conta as vivências dos pacientes, familiares e profissionais de saúde no que respeita ao modo como os cuidados são prestados, o relatório salienta a necessidade urgente de profissionais e instituições de saúde se concentrarem em cuidar da "pessoa no paciente”, ou seja, da sua dimensão humana, para além da utilização dos modernos equipamentos de saúde e tecnologias de ponta. Estas conclusões confirmam o resultado de um grupo de trabalho criado em 1978 por uma paciente que ficou desiludida com a sua experiência pessoal de cuidados de saúde recebidos durante uma enfermidade. Este grupo enfatiza que cada paciente é uma pessoa única, com necessidades diversas, um indivíduo que precisa de ser cuidado e não uma doença ou patologia que precisa de tratamento, e propõe um modelo de cuidados de saúde holístico e integrado, que promova a recuperação da saúde a nível mental, emocional, espiritual, social e físico (http://www.planetree.org/).
Mas como perdemos esta ênfase? O cuidado compassivo de pessoas vulneráveis tem sido um tema central da prática médica desde os tempos da Grécia antiga, mas esta abordagem tem sido posta em causa desde há algum tempo. Um dos factores responsáveis é a nossa maior preocupação com os avanços extraordinários da ciência médica e da tecnologia. É inquestionável que estes progressos têm trazido inúmeros benefícios, mas são apenas dirigidos aos aspectos físicos da doença. Outros factores adicionais envolvidos incluem fortes limitações no tempo disponível para cada paciente, a exigência de maior produtividade face aos recursos financeiros limitados, e o aumento das solicitações a nível de gestão para todos os profissionais envolvidos nos cuidados de saúde. Mas acima de tudo, a nossa própria visão do mundo, moldada pela cultura, história e experiência, irá certamente determinar a nossa atitude para com as pessoas e o modo como nos relacionamos com elas, sejam doentes, colegas, alunos ou familiares.
O trabalho da PRIME tem sempre procurado enfatizar a importância da humanização nos cuidados de saúde, que agora se está a tornar uma área de debate a nível internacional. Baseia-se numa cosmovisão fundamentada na fé cristã, em que o amor e respeito pelas pessoas foi não só ensinado como também demonstrado de forma prática pelo próprio Jesus.
O interesse da PRIME pelas pessoas reflecte-se também nas parcerias que estabelece e no ensino que ministra em dezenas de países. O objectivo desta abordagem consiste em aprender, ensinar e trabalhar em conjunto tendo em vista a restauração integral da pessoa como um todo - físico, emocional, social e espiritual. Muitos dos participantes em cursos, seminários e acções de formação da PRIME têm recebido e adoptado com estusiasmo este modelo bio-psico-social de prestação dos cuidados de saúde. Não deixe de participar na próxima oportunidade».

Este e outros temas relacionados com os cuidados de saúde serão abordados na acção de formação “Changing Values in a Changing World” (Valores em Mudança num Mundo em Mudança), que terá lugar no Hospital CUF Descobertas, em Lisboa, nos dias 21 e 22 de Maio próximo. O Prof. Richard Vincent será um dos principais formadores. Para mais informações sobre este evento é favor contactar: prime.iberia@gmail.com

07/04/10

ESCLEROTERAPIA NA DOENÇA VENOSA

As telangiectasias ou varizes reticulares, vulgarmente chamadas “derrames”, são extremamente frequentes nas mulheres, principalmente após uma gravidez ou nas que efectuam contracepção hormonal. São pequenos vasos vermelhos ou azulados na superfície da pele que, apesar de inestéticos, não acarretam complicações, embora seja conveniente efectuar também um ecodoppler dos membros inferiores nestas situações para se excluírem sinais de insuficiência venosa.
 
 O tratamento mais comum dos derrames é a escleroterapia, também chamada secagem (uma doente minha designou este tratamento de “picagem”!). Consiste na injecção com uma agulha muito fina de um líquido esclerosante, que irá provocar o colapso da parede da veia e a sua destruição. A escleroterapia realiza-se habitualmente no consultório médico, não requer anestesia, sendo complementada pelo uso de contenção elástica durante um período de tempo curto. As principais contra-indicações para este tratamento são a gravidez, asma, diabetes, insuficiência arterial, antecedentes de trombose venosa e existência de varizes tronculares. Se houver varizes de maior calibre (tronculares), está geralmente indicada a cirurgia em primeiro lugar.
 
Outra modalidade de tratamento das telangiectasias é através do laser percutâneo, que apresenta melhores resultados nos micro-derrames.

02/04/10

PÁSCOA FELIZ!



«No princípio era a Palavra.
A Palavra estava com Deus,
e a Palavra era Deus.
Aquele que é a Palavra estava no princípio com Deus.
Todas as coisas foram feitas por meio dele,
e sem ele nada foi criado.
Nele estava a vida,
vida que era a luz dos homens.
A luz brilha nas trevas,
trevas que a näo venceram.
Houve um homem enviado por Deus que se chamava Joäo.
Ele veio para dar testemunho,
para dar testemunho da luz,
para que todos cressem por meio dele.
João não era a luz,
mas foi enviado para dar testemunho da luz.
Aquele que é a Palavra era a luz verdadeira;
Ele ilumina toda a gente ao vir a este mundo.
Ele estava no mundo,
mundo que foi feito por ele.
O mundo näo o conheceu.
Ele veio para o seu próprio povo
e o seu povo não o recebeu.
Mas a todos quantos o receberam,
aos que crêem nele,
deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus.
Estes não nasceram de laços de sangue,
nem da vontade da carne, nem da vontade do homem,
mas nasceram de Deus.
A Palavra fez-se homem
e veio habitar no meio de nós,
e nós contemplámos a sua glória,
como glória do Filho único do Pai,
cheio de graça e de verdade».

(Evangelho segundo S. João 1: 1-14)